domingo, 31 de dezembro de 2017

Ascenção e falência de uma loja de discos


O documentário “All things must pass” (2015) é um dos mais bacanas filmes sobre a indústria fonográfica. Não só porque mostra a história da rede de lojas americana Tower Records que se espalhou pelo mundo, como também aborda as transformações do mercado, questões de gestão administrativa, mercado imobiliário, comportamento dos colecionadores, entre outros.
O filme tem 1h34 de duração, é dirigido pelo ator Colin Hanks (de “King Kong” e “The Wonders”) e apresenta depoimentos da família que abriu a loja original na década de 1940, de funcionários e de clientes entre eles os músicos Elton John, Dave Grohl e Bruce Springsteen. As entrevistas são intercaladas com fotos e vídeos de época sobre a loja. O que mostra prateleiras e cartazes com compactos custando US$ 0,45 e LPs por US$ 1,99.

A Tower Records passou de uma loja familiar que vendia uma diversidade de produtos até chegar a um bilhão de discos vendidos mensalmente e falir na década de 2000. A loja começou vendendo remédios, bebidas, doces, revistas, brinquedos, entre outros produtos em Sacramento, na Califórnia. Até passar a vender discos usados e expandir aos poucos a seção musical. Isso aconteceu porque o filho Russ Solomon (imagem abaixo) sugeriu ao pai colocar mais discos. O pai disse que isso só aconteceria se ele comprasse a loja e fizesse o que quisesse. E foi o que aconteceu anos depois. A primeira Tower Records somente com vinil foi aberta em 1961.


O logo da loja foi inspirado no clássico símbolo da Shell e o lema da Tower era “No music no life”. A rede chegou a ter quase 200 lojas em 30 países, numa expansão sem planejamento. Somente aproveitando pontos que estavam vazios com aluguel barato ou parcerias oportunistas. O que sempre gerava desconfiança nas pessoas que diziam que os donos eram loucos e iam falir. O que aconteceu muitos anos depois, mas não sem antes formar um império com histórias malucas de gastanças e luxúrias e que acabaram mudando muita coisa na indústria fonográfica.

TROCAS - A Tower Records criou e enfrentou mudanças no mercado. Entre eles a troca do vinil por CD, o sucesso da discoteque, a chegada da MTV, a concorrência das lojas de departamento, o surgimento do Napster, a internet, entre outros. A loja era referência para gravadoras e artistas que faziam questão de ter seus discos aos milhares na rede. E isso gerou uma campanha publicitária curiosa. Os funcionários da Tower Records ampliavam as capas de discos para decorar as lojas. E as ampliações ficaram cada vez maiores até ocuparem outdoors bancados pelas gravadoras.
Outra situação relacionada à divulgação foi que a Tower lançou a sua própria revista. A Pulse era escrita e produzida pelos funcionários com entrevistas com bandas e ranking dos discos mais vendidos na loja.


LENDAS – A Tower Records ajudou a difundir a “lenda” de que o atendimento nas lojas de discos sempre é péssimo porque os funcionários acham que entendem mais sobre música que os clientes. O que era reforçado pela falta de treinamento dos novos contratados.
O doc mostra também que nos bastidores da loja rolavam festas animadas. O dono Russ Solomon só pedia que não se fumasse maconha dentro da loja. De resto, os funcionários iam trabalhar bêbados direto das baladas, os diretores contratavam garotas só pelo “sex appeal” delas, entre outras situações.
Com altos investimentos em novas lojas em outros países e quedas nas vendas, a rede foi reduzida para pagar dívidas nos bancos. Gestores do mercado econômico foram contratados para tentar recuperar a rede, mas só pioraram as coisas. A última loja foi fechada em 2006. Hoje a Tower Records é uma franquia pertencente a outro grupo, sem muita relevância no mercado e tem uma loja online.

CURIOSIDADE – Guardada a devida proporção, a história da Tower Records tem relação com a do Porão Discos, em Maringá. A loja passou de um sebo com discos, livros e acessórios para se tornar somente loja de discos após mudança administrativa; teve uma filiam em Bauru (SP), passou por mudanças do mercado como a troca do acervo de vinil para CD e fechou por causa de dívida no banco. E a história do Porão Discos será mostrada no doc "Punká - uma história punk em Maringá". 
* Veja o trailer de “All things must pass” .


Texto: Andye Iore / Fotos: Divulgação 

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